quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Sujeito Oculto

Gente diferente, lá fora.
Busco palavras para expressar o que penso sobre essa massa que saracoteia sacolejante, envolta em virtudes inatas, por entre achincalhes e vilipêndios, rumo a catastróficas probabilidades de marasmo.
Furtivamente, observo alguns da janela de um segundo andar, por entre persianas que escancaro sem preocupar-me em denunciar meu esconderijo. Ora, aqui em cima, despercebido, posso ser-lhes um deus sem que eles saibam. Entre a senhora horrivelmente feia com uma blusa amarela, a criança no seu colo e o fantasma que aqui em cima os via atravessar a rua lá fora, qual vai lembrar deste momento daqui oitenta e dois dias? O deus de suas vidas insignificantes.
Mas não sou onisciente, apesar de saber de tudo.
Gente diferente e cores diferentes, lá fora.

Em dúvida sobre minha divindade, decido desfraldar também uma cor, única e irrevogável, representando-me perantes os mortais a quem governo. Uma cor que eu mal saiba reconhecer, na minha percepção grosseira de quem não se importa.
Sou, portanto, o Deus do Repolho Roxo; repolho azedo, como uma tarde que teima em não passar.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Sabe (só mais uma conversa sobre o tempo)

Me parece que o verbo mais correto seja dissolver. Consumir, talvez. É, estamos sendo consumidos. Senti isto neste final de semana, senti uma aura, um pesado manto cobrindo a mim e várias outras pessoas próximas. Estávamos sendo devorados pelo tempo. Penso... será mesmo ele a nos consumir? Me vem a mente a obsessão que se tem em calculá-lo, medi-lo, pesá-lo e guardá-lo em dois ponteiros e de que forma isso pode decepar nossa percepção.
Ora, num canto distante do período cretáceo, ou outro qualquer - minha ignorância não me permite afirmar qual seja - eis que vim encontrar um refúgio. Leio a bula de um poema, decifro a legenda de meu auto retrato, acomodado debaixo da asa de um pterodáctilo.
O tempo é um inimigo cruel, mas quem declarou a guerra fui eu.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

GWAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAR!

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Eis aqui um blog puritano.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Nota para uma vida por vir

Ser uma pipa e não uma âncora.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Debaixo d'asa

De fora da casa de espelhos, dos discursos ensaboados e das falácias ruminantes; solitário reflito em mi menor.

Aqui eu posso andar de chinelinho.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Numa volta pelo corredor encontrei, por acaso, um velho conhecido que há tempos eu não via. Eu não sabia que ele estava ali e fiquei surpreso com este reencontro. Na verdade, o que mais me surpreendeu foi o fato de ele viver ali ainda, daquele mesmo jeito, o cabelo desgrenhado e a cara de abobado; o fato de ele ainda estar vivo, de alguma forma... sem alimento, sem sustento e sem ar pra respirar.
Sorrimos e apertamos as mãos. E nesse apertar de mãos, compreendi que eu o alimentava sem saber, e que ele tinha de mim tudo que precisava pra continuar existindo até o momento em que eu o libertasse de novo, também sem saber. Era por isso que eu sentia tanta fome, aquele apetite atroz que me fazia querer devorar o mundo em três bocadas.
Acendi a luz do seu quarto há tanto abandonado e também meu corredor se iluminou. Com esta claridade repentina, meus olhos lacrimejaram um pouco. Tenho que me acostumar novamente, e lembrar para onde pretendia seguir.

"Todas as coisas tem que passar."

Este é o jeito

Eu não sei como dizer.
Eu não posso mais brincar contigo.
Todas as coisas tem que passar, e tudo que vive nasceu para morrer.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Acordar

Tão inexplicável quanto o ato de dormir.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

STARDUST WE ARE
STARDUST WE ARE
STARDUST WE ARE
STARDUST WE ARE
STARDUST WE ARE
STARDUST WE ARE
STARDUST WE ARE
STARDUST WE ARE
STARDUST WE ARE
STARDUST WE ARE
STARDUST WE ARE
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STARDUST WE ARE
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STARDUST WE ARE
STARDUST WE ARE
STARDUST WE ARE
STARDUST WE ARE
STARDUST WE ARE
STARDUST WE ARE
STARDUST WE ARE
STARDUST WE ARE
O profeta veio a mim me dizer que o fim das falas está próximo e se calou.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Sobre caminhos e calmantes

Como é difícil se ouvir.
Eu tinha algo para contar, mas não sei como começar.
É sobre um segredo, sobre um sonho.
Eu tenho em mim a impressão de estar vivendo a deriva.
É algo sobre um caminho que me acalma, mas que não encontro sempre que quero.
Que sentido faz eu estar aqui, apto a fazer esta pergunta?
Há anos venho tentando - e de repente me assusta a densidade de falar em anos - venho tentando falar sobre isso que há em mim e que eu nunca consigo explicar.
Bom, deixo aqui declarada minha desistência, posto que não sei mais sobre o que ia falar.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Confesso que até não achava estranho tantos outros acreditando na existência de um vigilante universal, sentado num trono metafísico. Achava estranho as pessoas terem certeza disso. Algo tão inquestionável não pode ser verdade, penso.

terça-feira, 24 de julho de 2012

- Foste condenado por ser mais imprevisível que o limite definido pela lei dos regentes universais do bairro, estando, assim, sujeito a pena de viver com medo da chuva e evitando sujar as mãos.
- Foste condenado a um século de reclusão, neste corpo mundano; considerado culpado por falta de luz; a ser libertado ou remanejado para outro cárcere dada a pena findada;

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Um dia, acordou sem os polegares opositores.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

E, no fim, aprendi que só a moldura não sabe fingir.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Interlúdio em Si Bemol

Ela era Sofia e não sabia.
Nem sentia, dia a dia, o velho Adolfo a lhe espiar.
Ali residia, na visão daquele senhor, o problema de amar tal seu amor; no singular, no sutil ar, nu a cintilar, estava seu Adolfo e seu amar em tom febril.
Ela era Sofia e não podia deixar de ser, pois não escolhera se começar.
Criatura que era, foi sem opção lançada ao cosmo, a óleo, ao céu em tom pastel.
Ela era Sofia e não sabia se olhar; era só, só, e só sabia ser Sofia.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Adolfo observa Sofia

"E se a Sofia criasse alma? Soubesse andar por aí, penetrar no mundo das retinas, usar seus olhos para ver, e não só encarar... Se a Sofia entrasse no universo dos viventes, sofredores, e passasse a ter seus próprios ódios e rancores, será que, em sua agora finita juventude, ela saberia me amar?
Talvez não, e o conhecimento da atrocidade cometida por mim, no ato de criá-la, jamais fosse perdoado. Ainda assim, não seria melhor conviver com esse esmago, esse estrago incerto, do que com a certeza pífia dessa imagem rasa, inafogável?
Não sei, e na minha essência de animal não divino, nunca saberei.
E... não sou eu, também, um raso retrato da ideia de alguém? Se for, talvez nunca tenham voltado pra observar esse velho quadro decrépito.
Tchau, Sofia; vou comprar pão."

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Tolice condenar a fuga; a mim, é essa uma chance de correr pra um ponto de vista diferente. Levar só o que precisa.
A ideia é ave selvagem; não se pode prendê-la sem a ferir. Não se pode segui-la sem deixar o resto pra trás.

Um lugar calmo

Porque não há paz sem haver solidão.