Gente diferente, lá fora.
Busco palavras para expressar o que penso sobre essa massa que saracoteia sacolejante, envolta em virtudes inatas, por entre achincalhes e vilipêndios, rumo a catastróficas probabilidades de marasmo.
Furtivamente, observo alguns da janela de um segundo andar, por entre persianas que escancaro sem preocupar-me em denunciar meu esconderijo. Ora, aqui em cima, despercebido, posso ser-lhes um deus sem que eles saibam. Entre a senhora horrivelmente feia com uma blusa amarela, a criança no seu colo e o fantasma que aqui em cima os via atravessar a rua lá fora, qual vai lembrar deste momento daqui oitenta e dois dias? O deus de suas vidas insignificantes.
Mas não sou onisciente, apesar de saber de tudo.
Gente diferente e cores diferentes, lá fora.
Em dúvida sobre minha divindade, decido desfraldar também uma cor, única e irrevogável, representando-me perantes os mortais a quem governo. Uma cor que eu mal saiba reconhecer, na minha percepção grosseira de quem não se importa.
Sou, portanto, o Deus do Repolho Roxo; repolho azedo, como uma tarde que teima em não passar.
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
Sabe (só mais uma conversa sobre o tempo)
Me parece que o verbo mais correto seja dissolver. Consumir, talvez. É, estamos sendo consumidos. Senti isto neste final de semana, senti uma aura, um pesado manto cobrindo a mim e várias outras pessoas próximas. Estávamos sendo devorados pelo tempo. Penso... será mesmo ele a nos consumir? Me vem a mente a obsessão que se tem em calculá-lo, medi-lo, pesá-lo e guardá-lo em dois ponteiros e de que forma isso pode decepar nossa percepção.
Ora, num canto distante do período cretáceo, ou outro qualquer - minha ignorância não me permite afirmar qual seja - eis que vim encontrar um refúgio. Leio a bula de um poema, decifro a legenda de meu auto retrato, acomodado debaixo da asa de um pterodáctilo.
O tempo é um inimigo cruel, mas quem declarou a guerra fui eu.
Ora, num canto distante do período cretáceo, ou outro qualquer - minha ignorância não me permite afirmar qual seja - eis que vim encontrar um refúgio. Leio a bula de um poema, decifro a legenda de meu auto retrato, acomodado debaixo da asa de um pterodáctilo.
O tempo é um inimigo cruel, mas quem declarou a guerra fui eu.
terça-feira, 13 de novembro de 2012
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
terça-feira, 6 de novembro de 2012
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
Debaixo d'asa
De fora da casa de espelhos, dos discursos ensaboados e das falácias ruminantes; solitário reflito em mi menor.
Aqui eu posso andar de chinelinho.
Aqui eu posso andar de chinelinho.
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
Numa volta pelo corredor encontrei, por acaso, um velho conhecido que
há tempos eu não via. Eu não sabia que ele estava ali e fiquei surpreso
com este reencontro. Na verdade, o que mais me surpreendeu foi o fato
de ele viver ali ainda, daquele mesmo jeito, o cabelo desgrenhado e a
cara de abobado; o fato de ele ainda estar vivo, de alguma forma... sem
alimento, sem sustento e sem ar pra respirar.
Sorrimos e apertamos as mãos. E nesse apertar de mãos, compreendi que eu o alimentava sem saber, e que ele tinha de mim tudo que precisava pra continuar existindo até o momento em que eu o libertasse de novo, também sem saber. Era por isso que eu sentia tanta fome, aquele apetite atroz que me fazia querer devorar o mundo em três bocadas.
Acendi a luz do seu quarto há tanto abandonado e também meu corredor se iluminou. Com esta claridade repentina, meus olhos lacrimejaram um pouco. Tenho que me acostumar novamente, e lembrar para onde pretendia seguir.
"Todas as coisas tem que passar."
Sorrimos e apertamos as mãos. E nesse apertar de mãos, compreendi que eu o alimentava sem saber, e que ele tinha de mim tudo que precisava pra continuar existindo até o momento em que eu o libertasse de novo, também sem saber. Era por isso que eu sentia tanta fome, aquele apetite atroz que me fazia querer devorar o mundo em três bocadas.
Acendi a luz do seu quarto há tanto abandonado e também meu corredor se iluminou. Com esta claridade repentina, meus olhos lacrimejaram um pouco. Tenho que me acostumar novamente, e lembrar para onde pretendia seguir.
"Todas as coisas tem que passar."
Este é o jeito
Eu não sei como dizer.
Eu não posso mais brincar contigo.
Todas as coisas tem que passar, e tudo que vive nasceu para morrer.
Eu não posso mais brincar contigo.
Todas as coisas tem que passar, e tudo que vive nasceu para morrer.
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