segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Batífero

E o que nós encontramos; os velhos mesmos medos. Meu velho amigo, estivéssemos aqui na data que se aproxima do fim dos calendários, que encrenca, que malévola situação encontraríamos.
Até que uma faixa se encontrasse na outra e finalmente nos tornássemos um; só; na escuridão que ergueríamos sob pretexto de sombra, até lá, até quando for possível evitar, seguiremos flutuando, cabisbaixos, carregados de esporos e palavras.
A asa bate, o voo segue. Quem era Sofia, eu não sabia.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Sobre ingerir uma poção de cura

"Todos têm um segredo"; "O que só nós dois sabemos já não é mais segredo", afirmam vozes distintas. Pergunto-me: o que só eu sei? Tenho a impressão de não saber, de ter hospedado em uma parte amortecida da mente um pensamento para nunca tirar de lá - tipo aquele dinheiro no banco, que serve para não gastar.
Uma linha de baixo, um solo de guitarra.
Um alívio debaixo da asa, no vôo solo do último pterodáctilo a encarar a face da Terra.
"Olhe em volta, escolha seu chão"; "Corra, coelho, corra".
Ah, pão, por que me alimentaste? Abandonado estou, distante da presença de espírito, que nunca é santo, quiçá são, sou, enfim, perturbado pela altercação e pelas explosões sonoras do planeta entre uma faixa e outra.
Escrevo aqui tentando entender, como quem tenta tomar banho de sol no lado escuro da lua.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Engasgo

Não sei mastigar devagar. Um dia tentei, no outro falhei. Numa noite passada há tempos, em tempos onde as preocupações eram menores, meu vômito me disse que deveria repensar este hábito. Repensei-o. Segui a praticá-lo da mesma forma - errada.

Faz mal a mim, mastigar assim. Mas nunca consegui evitar por mais de algumas garfadas. Depois da goela, tudo é bucho e penso que só vou precisar saber diferenciar quando algo ali causar incômodo.

Minto. Jamais aprendi a apontar o que causa o angustiante incômodo que, fosse físico, seria azia, essa coisa que me é anônima e persegue meus dias, tal qual persigo as noites que devem seguir as tardes malpassantes - que acabam a passar; e pesar. Pesa-me o estômago não saber lidar com as intragáveis rotinas que alimentam meus dias.

Eu solto o ar no fim do dia, perdi a vida

Eu só sei que não sei mastigar devagar. Engoli tranqueiras que custo a digerir; enquanto o tempo me digere a mim e a nós, ele que já nos devorou há tanto si. Sobre saber o sabor de um sapo, eu diria que há pouco a dizer; nem a isso saboreamos. Consumimos a qualquer item como se fosse uma pílula frívola de passagem temporânea - sem gosto, sem gostar, soltando o ar no fim do dia, perdendo finalmente a vida, na única evolução que conseguimos realmente acompanhar: nascer e morrer, comer e cagar.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Ah, nuvem
Tu sabes que eu simporto
Me importo o suficiente para evitar o trocadilho que surgiria a seguir
Ah, balões
Quem dera eu tivesse algo a dizer today.
 Day by day

quinta-feira, 20 de março de 2014

Apóstrofo

Sou escritor em fuga; corro para frente buscando uma saída, paro para pensar e me arrependo de ter parado. Não tivesse parado, não me arrependeria - por não ter parado ou por não poder sem parar? Fujo.

Não fugisse, escreveria. Seria escritor escrevente; escreveria. Mas fujo. Arranjo tempo depois da correria. Antes, tenho algo a aprender e algo a lembrar. Amanhã tem geleia. Mas ontem tinha acento. Não importando esta regra que teimo em aprender, consigo escapar da obrigação de escrever o que eu queria ter escrito. Preciso, para isso, contornar uma barreira, um desvio; fujo.

Soubesse para onde ir, iria. Fugir não envolve o destino próximo, mas o anterior. Fugir daqui, sem saber para onde. Paro. Penso e me arrependo de pensar. Não pensasse, saberia o que dizer. Sigo a fazer o que sei, sem nada dizer: fujo.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Entre nós

Lá dentro vive um mundo minúsculo.
Eu poderia morar ali.
Eu poderia causar transformações ali.
Poderia trazê-lo abaixo, desfazer seus caminhos;
Se eu desamarrasse o portal que existe entre nós,
nada seria como era.
Decido por deixá-lo assim e ir embora.
Enquanto as mudanças invisíveis vão acontecendo, eu fico aqui parado:
olhando pelo buraco da fechadura.