terça-feira, 12 de março de 2013

Sobre o Mistério

    Eu diria que há algo a se descobrir, sempre. Que existe um lugar novo dentro de um lugar velho. E que esse espaço que ocupamos por acidente, ou ao menos sem culpa, vem a ser uma indecifrável novidade que passamos a conhecer cada vez menos, a cada vez que mais descobrimos.
    Além, penso que passa muito por nós num encontro de dois estranhos, desses que nos ocorrem todo tempo, mas nos quais apenas raras vezes olhamos para o outro, ora, ainda mais raramente olhamos a nós mesmos, e por isso os chamei um encontro de dois estranhos: quem é esse aí que me encara todo dia no espelho? Parece que, de mim, aprendi mais, e vi mais, olhando em volta, pinicando olhares pras caras que não eram minhas, que apenas compartilhavam comigo um mistério sem saber, sem que eu também soubesse.
    Ora, que relação íntima tivemos, dividindo esse momento tão único; diante de uma questão não formulada, ali estávamos nós contemplando, sem saber, uns aos outros, tudo o que temos, tudo o que tivemos, na ânsia de passar desse espaço para outro; sem saber até quando ir, nem onde parar. Para dois universos minúsculos, tão egocêntricos que somos, preocupados em manter privada uma vida sem novidades, compartilhar silenciosamente um mistério tão grande, penso, talvez seja um absurdo, talvez seja um ato silencioso justamente pela incapacidade de reconhecer uma prática tão facilmente condenável, o compartilhar de um universo que nos une a todos, que rompe os pacotes, as membranas que usamos para separar o eu do tu, duas partes que, em verdade, sabemos e negamos, não existem em qualquer forma, sendo, apenas, uma ousada definição de mortais que ousam julgar-se cientes do que se passa a sua volta e em seu interior. Mas que interior é esse que não começa nem termina nem, portanto, existe? Ah, não, eu não posso cair vítima também desse golpe. Eu devo descobrir algo sobre nós e sobre nosso momento, algo que quebre esse acordo não assinado de silêncio, esse cárcere que respeitamos sem enxergar, algo que quebre a cara-de-pau que afirma ser único num universo onde nem é coisa alguma; cá estou eu em meio a outros que decidiram pensar por outros meios, e onde chegaremos? Vamos diretamente por um caminho único, muito maior que nossas pisadinhas insignificantes, direto para um borrão desconhecido chamado aqui, esse lugar de que pouco sabemos, que recém descobrimos ser algo além do que imaginávamos, cá estamos, correnteza rumo ao infinito, sabendo um pouco mais a cada era, rumo a uma gota de chuva na calçada, indo nos despedaçar inevitavelmente num choque com uma barreira construída por alguém que não sei denunciar. E nisso eu compreendo um pouco mais.

Na dura calçada e nas duras cabeças, sobre todos nós, um pouco de chuva deve cair.

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