Não sei mastigar devagar. Um dia tentei, no outro falhei. Numa noite passada há tempos, em tempos onde as preocupações eram menores, meu vômito me disse que deveria repensar este hábito. Repensei-o. Segui a praticá-lo da mesma forma - errada.
Faz mal a mim, mastigar assim. Mas nunca consegui evitar por mais de algumas garfadas. Depois da goela, tudo é bucho e penso que só vou precisar saber diferenciar quando algo ali causar incômodo.
Minto. Jamais aprendi a apontar o que causa o angustiante incômodo que, fosse físico, seria azia, essa coisa que me é anônima e persegue meus dias, tal qual persigo as noites que devem seguir as tardes malpassantes - que acabam a passar; e pesar. Pesa-me o estômago não saber lidar com as intragáveis rotinas que alimentam meus dias.
Eu solto o ar no fim do dia, perdi a vida
Eu só sei que não sei mastigar devagar. Engoli tranqueiras que custo a digerir; enquanto o tempo me digere a mim e a nós, ele que já nos devorou há tanto si. Sobre saber o sabor de um sapo, eu diria que há pouco a dizer; nem a isso saboreamos. Consumimos a qualquer item como se fosse uma pílula frívola de passagem temporânea - sem gosto, sem gostar, soltando o ar no fim do dia, perdendo finalmente a vida, na única evolução que conseguimos realmente acompanhar: nascer e morrer, comer e cagar.